Tenho uma prima, com cerca de 10 anos que tem dois cães: um bulldog, Terry, e um labrador, Napoleão.
No sábado, o Terry adoeceu, foi levado ao veterinário e veio a descobrir-se que tinha um cancro terminal, foram-se discutidas várias opções quando a médica nos informou de rompante que a melhor opção seria abate-lo, através de Eutanásia. Perante esta dura realidade, os meus tios romperam num choro compulsivo!
Chegamos a casa devastados. No próximo dia, domingo, teríamos de abater o nosso tão amado e querido cão. Imediatamente pensamos em como contaríamos isto a uma criança de dez anos, mas lá teria que ser. (Na nossa família acreditamos em contar SEMPRE a verdade.) Bati na porta do quarto dela e esperei que ela respondesse. Entrei e sentei-me na cama com ela. Ela começou a soluçar e perguntou-me: -Mafalda, o Terry vai ter de ir para o céu? Acenei afirmativamente! Ela abraçou-me e pousou a cabeça no meu colo.
-Mafalda, estás triste?
-Claro que sim!
-Então porque não estás a chorar?
-Porque o Terry está a sofrer muito, mas eu sei que quando ele for para ''o céu'' vai ficar bem.
-Então também vou ficar feliz por ele.
Deitei-me para trás. -Matilde, sabes o que é Eutanásia?
-Não. O que é?
-A Eutanásia é aquilo que vai acontecer ao Terry. Amanhã a médica dele vem cá a casa trazer uns comprimidos que vão levar o Terry para o céu.
-Haaa ok. Já percebi é tipo um andante de autocarro, só que é para o céu.
- Sim! É isso mesmo!
(Silêncio)
Adormecemos juntas.
No dia seguinte acordei ás 4:30h da manhã com barulho. Levantei-me e descobri a minha prima a acariciar o cão. Fui buscar uma manta, cobri o cão e a minha prima e fui fazer o pequeno-almoço para as duas e para o cão.
Tocou a campainha, olhei para o relógio, 13h da tarde, pensei que ainda não podia ser. Ainda não podia ter chegado a hora. Hesitante olhei para a Matilde, tanto eu como ela sabíamos o que aquele toque significava! Ela agarrou-se a mim e pegou o cão pela coleira, fomos até à porta e eu abri-a devagar, esperando que fosse apenas algum miúdo a pregar-nos uma partida, mas não! Do outro lado da porta estava a mesma médica que no dia anterior nos tinha dado aquela terrível notícia. Convidei-a a entrar ainda um pouco apática e sem dizer uma palavra. Ela sentou-se no sofá e eu assim o fiz, acompanhada da minha prima e do cão, que se sentou ao lado da Matilde. Fui chamar os meus tios que estavam no quarto por não aguentarem o terrível diagnóstico. Eles lá vieram, de pijama, com olhos vermelhos agarrados um ao outro. Sentaram-se todos à volta do cão, enquanto a veterinária nos informava do que ia acontecer, como é que ia acontecer e o que é que o cão iria sentir. Ficamos todos aliviados quando percebemos que o cão iria apenas sentir uma leve picada, em nada comparado ao sofrimento que sentiria se fosse obrigado a continuar no mundo dos vivos.
À medida que a doutora falava a minha prima ficava, notoriamente, cada vez mais triste e a tomar consciência do que iria acontecer. A cada palavra dita pela médica, ela afundava cada vez mais a cara no pelo do cão.
Fomos todos para o pátio afim de brincar-mos com o Terry uma última vez. A Matilde corria, corria e corria com ele, sempre sem se cansar e nem se aborrecer. Passaram-se duas horas quando o cão começou a ficar visivelmente cansado. Levamo-lo para dentro e preparamos a sua ultima refeição e a nossa ultima refeição com ele. Comemos em silêncio e tanto o Terry como o Napoleão pareciam aperceber-se do que se passava e comiam também em silêncio.
Enquanto mastigava, nem dava pelos comprimidos esmagados entre a sua carne. Acabou a refeição e deitou-se no chão, adormecendo. A Matilde deu conta e correu para a beira dele, afagando-lhe o pelo. Depois da sua reacção, também os meus tios se aperceberam do que acontecera e também eles se juntaram à filha.
Depois de muito choro, a Matilde levanta-se e afirma: -Os cães vivem menos tempo do que os humanos, porque já nascem a saber amar de uma forma que nós levamos a vida inteira para compreender.
Ficamos todos surpreendidos a olhar para ela como ''Um burro a olhar para um palácio''.
Este episódio passou-se já quase à um ano atrás, no entanto, não pude deixar de o compartilhar depois de ver esta imagem:
Todos nós achamos que as crianças precisão da nossa protecção e que não compreendem a ''nossa realidade'', pensamos que elas andam sempre alheias ao que acontece à sua volta e que só se importam com as suas brincadeiras e jogos mas as crianças compreendem tão ou melhor as nossas coisas, só é preciso tirar o tempo necessário para lhes explicar.
Nunca duvidem que as crianças valem mais do que pensamos!
Muito bonita essa história, Matilde!
ResponderEliminarJá fiquei fã da vossa família, acreditam em contar sempre toda a verdade e adoram animais :)
Beijinhos
P.S. Adiciona o quadro de seguidores e avisa!
De certeza que ela irá ficar agradecida pelo comentário!
EliminarJá adicionei o quadro de seguidores.
Obrigado pela dica!
E pronto, tens a tua primeira seguidora, Mafalda ;)
ResponderEliminarP.S. Desculpa a troca de nomes, no 1º comentário!
Obrigada e não problema!!!
EliminarObrigada e não problema!!!
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