quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crianças e animais de estimação.

Ok. Então, na minha famìlia há uma grande adoração por animais. 
Tenho uma prima, com cerca de 10 anos que tem dois cães: um bulldog, Terry, e um labrador, Napoleão.
No sábado, o Terry adoeceu, foi levado ao veterinário e veio a descobrir-se que tinha um cancro terminal, foram-se discutidas várias opções quando a médica nos informou de rompante que a melhor opção seria abate-lo, através de Eutanásia. Perante esta dura realidade, os meus tios romperam num choro compulsivo!
Chegamos a casa devastados. No próximo dia, domingo, teríamos de abater o nosso tão amado e querido cão. Imediatamente pensamos em como contaríamos isto a uma criança de dez anos, mas lá teria que ser. (Na nossa família acreditamos em contar SEMPRE a verdade.) Bati na porta do quarto dela e esperei que ela respondesse. Entrei e sentei-me na cama com ela. Ela começou a soluçar e perguntou-me: -Mafalda, o Terry vai ter de ir para o céu? Acenei afirmativamente! Ela abraçou-me e pousou a cabeça no meu colo.
-Mafalda, estás triste?
-Claro que sim!
-Então porque não estás a chorar?
-Porque o Terry está a sofrer muito, mas eu sei que quando ele for para ''o céu'' vai ficar bem.
-Então também vou ficar feliz por ele.
Deitei-me para trás. -Matilde, sabes o que é Eutanásia?
-Não. O que é?
-A Eutanásia é aquilo que vai acontecer ao Terry. Amanhã a médica dele vem cá a casa trazer uns comprimidos que vão levar o Terry para o céu.
-Haaa ok. Já percebi é tipo um andante de autocarro, só que é para o céu.
- Sim! É isso mesmo!

(Silêncio)
Adormecemos juntas.

No dia seguinte acordei ás 4:30h da manhã com barulho. Levantei-me e descobri a minha prima a acariciar o cão. Fui buscar uma manta, cobri o cão e a minha prima e fui fazer o pequeno-almoço para as duas e para o cão. 
Tocou a campainha, olhei para o relógio, 13h da tarde, pensei que ainda não podia ser. Ainda não podia ter chegado a hora. Hesitante olhei para a Matilde, tanto eu como ela sabíamos o que aquele toque significava! Ela agarrou-se a mim e pegou o cão pela coleira, fomos até à porta e eu abri-a devagar, esperando que fosse apenas algum miúdo a pregar-nos uma partida, mas não! Do outro lado da porta estava a mesma médica que no dia anterior nos tinha dado aquela terrível notícia. Convidei-a a entrar ainda um pouco apática e sem dizer uma palavra. Ela sentou-se no sofá e eu assim o fiz, acompanhada da minha prima e do cão, que se sentou ao lado da Matilde. Fui chamar os meus tios que estavam no quarto por não aguentarem o terrível diagnóstico. Eles lá vieram, de pijama, com olhos vermelhos agarrados um ao outro. Sentaram-se todos à volta do cão, enquanto a veterinária nos informava do que ia acontecer, como é que ia acontecer e o que é que o cão iria sentir. Ficamos todos aliviados quando percebemos que o cão iria apenas sentir uma leve picada, em nada comparado ao sofrimento que sentiria se fosse obrigado a continuar no mundo dos vivos. 
À medida que a doutora falava a minha prima ficava, notoriamente, cada vez mais triste e a tomar consciência do que iria acontecer. A cada palavra dita pela médica, ela afundava cada vez mais a cara no pelo do cão.
Fomos todos para o pátio afim de brincar-mos com o Terry uma última vez. A Matilde corria, corria e corria com ele, sempre sem se cansar e nem se aborrecer. Passaram-se duas horas quando o cão começou a ficar visivelmente cansado. Levamo-lo para dentro e preparamos a sua ultima refeição e a nossa ultima refeição com ele. Comemos em silêncio e tanto o Terry como o Napoleão pareciam aperceber-se do que se passava e comiam também em silêncio.
Enquanto mastigava, nem dava pelos comprimidos esmagados entre a sua carne. Acabou a refeição e deitou-se no chão, adormecendo. A Matilde deu conta e correu para a beira dele, afagando-lhe o pelo. Depois da sua reacção, também os meus tios se aperceberam do que acontecera e também eles se juntaram à filha.
Depois de muito choro, a Matilde levanta-se e afirma: -Os cães vivem menos tempo do que os humanos, porque já nascem a saber amar de uma forma que nós levamos a vida inteira para compreender. 
Ficamos todos surpreendidos a olhar para ela como ''Um burro a olhar para um palácio''.

Este episódio passou-se já quase à um ano atrás, no entanto, não pude deixar de o compartilhar depois de ver esta imagem:
 Todos nós achamos que as crianças precisão da nossa protecção e que não compreendem a ''nossa realidade'', pensamos que elas andam sempre alheias ao que acontece à sua volta e que só se importam com as suas brincadeiras e jogos mas as crianças compreendem tão ou melhor as nossas coisas, só é preciso tirar o tempo necessário para lhes explicar.
Nunca duvidem que as crianças valem mais do que pensamos!

5 comentários:

  1. Muito bonita essa história, Matilde!
    Já fiquei fã da vossa família, acreditam em contar sempre toda a verdade e adoram animais :)
    Beijinhos

    P.S. Adiciona o quadro de seguidores e avisa!

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    1. De certeza que ela irá ficar agradecida pelo comentário!
      Já adicionei o quadro de seguidores.
      Obrigado pela dica!

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  2. E pronto, tens a tua primeira seguidora, Mafalda ;)

    P.S. Desculpa a troca de nomes, no 1º comentário!

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